APRESENTAÇÃO

 

AVEPALAVRA, periódico científico do Curso de Letras do Campus de Alto Araguaia da Unemat, vem fazendo um importante esforço no sentido da qualificação de sua atividade editorial. É assim que apresenta ao público interessado o seu número 10, contendo um conjunto de artigos que cobre diferentes campos das ciências da linguagem.

O primeiro artigo deste volume (“A Nova Modalidade de Mesóclise no Português Brasileiro” de Cássia Regina Tomanin) estuda aspectos da sintaxe do português do Brasil, mais especificamente a questão da mesóclise, tratada a partir do conceito de gramaticalização; no segundo texto (“Evanildo Bechara: Entre a Tradição Gramatical e a Nova Corrente Moderna” de Edileusa Gimenes Moralis) encontramos a discussão, feita em torno da gramática de Evanildo Bechara, da tradição gramatical brasileira diante dos avanços das ciências da linguagem; em seguida vamos encontrar um estudo sobre fatos de uma língua indígena brasileira (“Negação em Kaiowá (Guarani)” de Valéria Faria Cardoso) atendendo, inclusive, a inserção do programa de Alto Araguaia num espaço brasileiro no qual esta questão é particularmente sensível. Neste texto tem-se uma análise do funcionamento morfossintático da negação na língua Kaiowá/Guarani, estudando tipos de morfemas que são usados para formar diferentes construções negativas.

Num segundo momento, este número de AVEPALAVRA avança pela reflexão de aspectos da linguagem e suas relações com o ensino. Em “Coesão e Coerência Textuais: Exercícios de Sala de Aula”, Marlon Leal Rodrigues e Paulo Cesar Tafarello procuram compreender o uso de categorias como coerência e coesão como modo de superação e ruptura relativamente às categorias gramaticais usuais da tradição gramatical normativa. Em seguida vem um texto (“Semelhanças e Diferenças entre as Tarefas Pedagógicas Produzidas pelos Professores em Formação Quando Recorrem a Diferentes Tipos de Artefatos” de Patrícia Vasconcelos Almeida) que apresenta um experimento sobre a formação de professores de inglês. Seu objetivo é identificar as semelhanças e diferenças ocorridas nas tarefas e nas práticas pedagógicas de professores durante uma experiência de docência desenvolvida pela autora. Tratar de um outro aspecto das condições profissionais dos professores é o objetivo do texto de Alaíde Pereira J. Aredes e Candido Vieitez Guiraldez (“As Relações de Trabalho no Cotidiano Escolar à Luz da Teoria da Ação Comunicativa de Habermas”). O texto toma as relações de trabalho na Escola pública como relações de poder, e procura analisar como a centralização do poder das direções é afetada pelas modificações da sociedade hoje. O último texto (“A Ontogov-Mt: Contribuições Lingüístico-Tecnológicas para a Democratização dos Serviços Públicos em Mato Grosso” de Albano Dalla Pria e Gislaine Aparecida De Carvalho) propõe uma discussão a respeito das instrumentações lingüísticas e a democratização em Mato-Grosso.

Na parte de Resenhas, importante para os periódicos especializados, vem uma análise de Catatau de Paulo Leminsky feita, com especial cuidado, por Daniel Abrão que, diferentemente da maior parte da crítica que considera a obra de Leminsky como tributária do experimentalismo de vanguarda e do concretismo, prefere abordar “a relação de produção do sujeito como trânsito de tensões históricas vividas pela sociedade nos anos 60 e 70 do século XX, momento definitivo de esgotamento do projeto das vanguardas, do projeto utópico do alto modernismo e do questionamento da primazia da técnica como fundamento da arte”.

Como se vê, temos aqui um conjunto interessante de questões, que se ocupa de aspectos diversos do funcionamento lingüístico na história brasileira e que pode contribuir tanto para discussões sobre domínios diferentes do conhecimento sobre a linguagem, como para uma reflexão sobre o funcionamento da sociedade brasileira hoje.

 

 

Eduardo Guimarães