ENTREVISTA COM O PROF. DR. JOSÉ PEREIRA DA SILVA

Por Miriam Araújo – Maio 2013

Acadêmica de jornalismo – Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat)

 

A Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UESM) realizou o V Simpósio Nacional de Estudos Filológicos e Lingüísticos (SINEFIL), o evento ocorreu nos dias 02/03 e 04 do mês de abril de 2013. A semana foi criada para oferecer aulas-“conferência”, comunicações e apresentação de pôsteres. Os cursos foram no formato verão aos estudantes e profissionais de Letras e de áreas afins.

A pretensão do simpósio foi levar o conhecimento das últimas novidades da Lingüística e da Filologia para a sua aplicação prática em seus estudos e trabalhos.

O objetivo específico foi divulgar os estudos filológicos e lingüísticos, preparando os graduandos e reciclando os graduados para o bom desempenho de suas atividades profissionais na área de Letras.

(fonte:  http://www.filologia.org.br/v_sinefil/)

 

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A Filologia é a atividade básica para interpretação de textos no ensino

O Professor Doutor José Pereira da Silva é um dos idealizadores do Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Lingüísticos – Cifefil.

Miriam Araújo - Como aconteceu a criação do Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Lingüísticos (Cifefil) e quais objetivos os motivaram criar a entidade?

 José Pereira: O Cifefil foi criado em outubro de 1994 por um grupo de alunos do mestrado e doutorado da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), pelos os professores Emmanuel Macedo Tavares, Álvaro Alfredo Bragança Junior, Ruy Magalhães de Araujo e eu (José Pereira da Silva) éramos apenas quatro professores na criação.

M.A - E como esta a situação atual?

José Pereira: O Cifefil hoje tem por volta de uns 200 associados sendo que uns 60 a 80 pagam regularmente as suas anuidades, e os outros são associados que não pagam e participam dos nossos eventos.

M. A -  Quais os próximos passos e planos para os anos a seguir?

José Pereira: O círculo organiza todo ano pelos três eventos que acontecem em abril, agosto e novembro. E edita uma revista permanente a Revista Philologus, o plano básico é manter esses trabalhos, e não temos ambição de alterar substancialmente esse programa.

M. A. - A revista é impressa ou Online?

José Pereira: Impressa e também eletrônica, o endereço: www.philologia.org.br/revista

M.A - Como aconteceu o seu interesse pela filologia?

José Pereira: Eu comecei a trabalhar a idéia pela filologia a partir do momento que terminei a graduação e percebi que praticamente não havia filólogos, não só no Rio de Janeiro, mas no Brasil todo. Era muito difícil. Eu sempre tive o hábito e o gosto de fazer coisas que parecessem difíceis, então achei que deveria ser bastante complexo isto de ser filólogo, visto que na área de Letras havia gente de Teoria Literária, Lingüística e de várias áreas, e de filologias havia muito poucos profissionais na área. Então essa foi uma das pretensões.

E também porque o primeiro concurso que fiz para o nível superior, como professor do ensino foi na área de Filologia, pois na época não tinha professor na UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) e aconteceu  antes mesmo de começar o mestrado. Consegui ser aprovado no concurso sem ter sido preparado, então me deu vontade de ingressar nessa linha de trabalho.

M.A - Poderia relacionar ou pontuar a diferença entre Filologia, Lingüística e Gramática normativa?

José Pereira: Lingüística e filologia são duas áreas que não tem tanta proximidade que parece ter, na verdade a lingüística se preocupa com a história, tradição de um povo através de textos escritos. Quando digo isso me refiro a registrados de alguma forma, no passado era apenas a forma escrita, mas de algumas décadas pra cá temos textos gravados em diversas formas, em discos ou de qualquer forma pode ser usado como trabalho filólogo, ou seja, ela preocupa com manutenção da cultura de um povo preservada através dos textos.

E a lingüística se preocupa em descrever as línguas, em mostrar como é que elas estão funcionando, então são coisas bem diferentes. Na verdade ambas, a lingüística e filologia tem a língua como sua matéria de estudo, mas cada uma trata de modo bem diferente.

A Gramática normativa tem uma preocupação de descrever a língua padrão de um povo, a língua oficial, ela se preocupa com língua escrita e não com a língua oral. Enquanto a lingüística não esta preocupada com essa língua oficial, e sim na descrição lingüística de um modo geral, como funciona uma língua. E a Filologia também não esta preocupada com descrição da língua e nem a norma, nem a descrição pura, simplesmente com a preservação dessa língua da maneira que ela pode ser bem entendida e compreendida, como por exemplo, os trabalhos práticos que todos os professores de língua  fazem com a explicação de textos, que são difíceis de ser entendidos. Como o ato de explicar para o aluno, e então esta fazendo filologia. Isso acontece desde os primeiros anos do ensino, quando faz com que ele entenda o texto.

M.A - O senhor possui alguns trabalhos publicados. Quais tiveram repercussão fora do mundo acadêmica e desses se tornaram os seus principais trabalhos?

José Pereira: Na verdade todos os meus trabalhos publicados estão relacionados com a vida acadêmica, alguns tiveram maiores repercussões, como por exemplo,  um livrinho que foi publicado em 2009 - A Nova Ortografia da Língua Portuguesa, logo a seguir tivemos uma segunda edição em 2010 e depois deixou de ser editado,porque a editora vendeu o estoque que havia para uma livraria especifica e essa livraria não tinha uma grande vende, por isso não foi possível fazer uma nova edição.

A importante repercussão nesse fato foi que naquele momento, a gente estava cuidando de preparar os professores para entender as novas normas ortográficas, e foi de bastante utilidade nesse período.

M.A - Sendo assim, quais contribuições a filologia pode trazer ou traz para língua portuguesa no ensino de hoje?

José Pereira: Inicialmente a filologia se preocupava com ensino, o filólogo era quem ensinava a língua portuguesa, a partir do momento que as línguas passaram a ser escrito para os povos que tem língua escrita. O problema principal é fazer entender os textos de maior dificuldade de compreensão, por isso até hoje na interpretação de textos, por exemplo, a atividade básica é a Filologia. No ensino de literatura, nos estudos de crítica literária é muito importante o trabalho filológico porque é o filólogo que estabelece um texto autêntico, mais próximo possível da proposta do autor, eliminando aquelas intervenções que os editores e que o tempo vai fazendo no texto de um modo geral; principalmente os de poucas tiragens ou às vezes até mesmo um manuscrito que existe uma só versão. Então, por isso é importante para o ensino porque o filólogo faz com que o professor, por exemplo, possa ter um texto que verdadeiramente represente uma época ou o pensamento de um autor.